Estereofonia portátil e acessível: o gravador Tascam DR-05

Na tarefa de professor, é comum que alunos cheguem a mim e perguntem qual deveria ser o primeiro gravador a ser comprado por eles. Eu normalmente indico o Zoom H1 (ou, mais recentemente, o H1n) ou o Tascam Dr-05. Entretanto, esses são gravadores básicos que, de fato, são muito limitados. Não possuem entradas XLR ou P10, não possuem Phantom, não possuem bons controles para um estúdio ou set de gravação. Diria que esses gravadores portáteis na verdade são muito mais para situações específicas do que como gravadores de entrada. Ou seja, vale a pena comprar um desses porque, em algumas situações, ele pode ser mais prático que um kit menos portátil.

O foco desse tipo de gravador está em situações onde é necessário se haver uma gravação estereofônica com um mínimo de qualidade, como gravar uma banda inteira ou capturar uma ambiência para um filme. O foco também pode estar em ter um gravador leve e simples para gravar entrevistas, apesar de eu acreditar que esse não seja um ponto forte do Tascam DR-05. Nas próximas linhas, veremos quais são os pontos fortes e fracos do Tascam DR-05.

Qualidade de construção

A qualidade de construção do DR-05 é ótima para a sua categoria. Ele não possui muitos botões nas laterais e todos os botões são firmes e não parecem que quebram com facilidade. Muitos usuários relataram que a tinta dos botões centrais do gravador acaba apagando com o tempo. Imagino que isso ocorra em locais quentes, onde o suor da mão de quem esteja manuseando venha a pouco a pouco apagar essa tinta. De qualquer forma, são poucos botões e um usuário recorrente irá decorar o que cada botão faz com facilidade.
O gravador usa um cartão Micro-SD, que é adequado para o tamanho reduzido dele. Com o mercado de celulares em alta, é cada vez mais fácil achar Micro-SDs de qualidade e com maior capacidade de armazenamento. Portanto, não creio que ser Micro-SD seja uma desvantagem, apesar de que é necessário ter mais cuidado para não se perder esse tipo de cartão. Indico que se coloque um cartão com bastante capacidade de memória e deixe dentro do gravador permanentemente, usando um cabo USB (que vem com o gravador) para descarregar o cartão. Para isso, basta conectar o cabo USB e ligar o gravador. Depois disso, selecione “Storage”. A tampa que guarda o cartão me parece robusta o suficiente, mas é importante não forçá-la ao abrir. Uma desvantagem desse gravador é que o conector USB não possui nenhuma proteção. Daí, indico guardá-lo em uma case, ou longe da ação do vento, para evitar que o conector venha a oxidar (enferrujar).
Embaixo, o gravador possui um espaço para se acoplar uma manopla, um tripé ou qualquer parafuso de 1/4 de polegada. Em diversas situações, levar um mini-tripé com esse gravador pode ser muito útil, uma vez que usar o microfone embutido e segurar diretamente no gravador pode causar manipulação (sons do manuseio saírem na gravação). O gravador possui uma caixa de som na parte de trás, mas essa caixa só deve ser utilizada muito pontualmente, uma vez que possui uma qualidade muito ruim. O ideal é sempre utilizar um bom fone de ouvido. O fone é conectado em uma entrada P2 no lado esquerdo do gravador.

Botões e controles

Como citei acima, o DR-05 possui poucos botões. O botão de liga/ desliga é o mesmo botão de parar a gravação. Há um outro botão para se começar a gravação ao lado dele (“rec”). Lembrando que é necessário apertar o botão de rec duas vezes para se começar a gravação de fato. A primeira vez que se aperta o botão é para ligar o microfone e a segunda é para começar a gravar.
Abaixo dos dois botões que já citamos, encontramos nove botões de navegação. Os dois na vertical (com os símbolos de + e -) são para aumentar ou diminuir o volume do fone de ouvido. Os dois da horizontal (com os símbolos de avançar e voltar) podem ser utilizados para controlar a sensibilidade do microfone do gravador (durante a gravação) ou para avançar ou voltar arquivos (durante a reprodução). Esses botões também são utilizados para se navegar no menu do gravador.
O Botão “menu” serve para acessar e sair do menu principal e sair dos submenus. O botão “Quick”, traz opções rápidas de deletar arquivos, de dividir arquivos ou de aumentar o nível de reprodução do arquivo para ajudar na inteligibilidade (Level Align). O Botão “Mark” cria marcadores no meio da gravação, que serão visíveis no editor de som no computador e podem ser utilizados para fazer anotações sobre aquele momento da gravação (exemplo: fazer um marcador na hora em que passou um avião). O botão “PB CONT” é para o controle de playback e pode acelerar ou retardar a velocidade na hora da reprodução. No centro, temos o nono botão, que é o de play, que serve tanto para reproduzir um arquivo como para pausar a gravação.
Do lado esquerdo do gravador, temos o botão de travar o teclado e nada mais. Esse botão é muito útil, tendo em vista a portabilidade desse gravador (o que torna mais possível apertar um botão sem querer). Esses são todos os botões do gravador.

Portabilidade

O Tascam DR-05 usa duas pilhas. Segundo a fabricante, duas pilhas alcalinas duram até 17 horas de gravação e eu não encontrei um resultado diferente. De fato, até mesmo pilhas mais baratas mantém esse gravador ligado por um bom tempo. Além disso, é possível ligar o gravador através de uma bateria usb externa (popularmente chamado de “carregador portátil” ou powerbank) mas não sei se isso seria uma boa ideia, uma vez que complicaria o fator portátil do gravador. Pode-se também conectar o cabo USB em uma tomada ou um computador e ter uma “bateria infinita”. Nesse caso, ou no caso do Powerbank, basta ligar o gravador conectado via USB e selecionar “Bus Power”. Mesmo com as pilhas, o gravador é leve e pode facilmente caber no bolso. Todos os controles são facilmente acessíveis com uma mão só. Portabilidade é o nome do meio desse gravador.

Entradas

O gravador possui uma única entrada P2 (ou TRS de 2,5mm) que fica entre os dois microfones superiores. Essa entrada substitui os microfones embutidos e gera um sinal estéreo. No menu do gravador, há também a opção de ativar a energia “plug-in”, necessária para microfones dinâmicos. Entretanto, vários usuários já relataram que essa entrada dá problemas, o que me faz entender que pode ser um problema de série. Se você estiver comprando esse gravador por conta das entradas, ele é contra-indicado.

Ganho

O ganho é decente. Tanto dos microfones embutidos quanto da entrada P2, pode-se gerar um sinal que não vai ter um alto nível de ruído. Não são os microfones com o melhor ganho, mas fazem um trabalho decente. Creio que os microfones do Zoom H1 possuam um ganho melhor que esse, mas futuramente faremos uma comparação direta entre esses dois gravadores e saberemos qual deles possuem o melhor ganho. Seja como for, você não vai ter uma gravação com uma grande quantidade de ruído branco.

Microfones

Os microfones embutidos são, como informa a fabricante, no padrão AB. Na verdade, o padrão dos microfones desse gravador é mais próximo do padrão ORTF, mas recentemente convencionou-se chamar tudo o que não fosse padrão XY de padrão AB e é assim que esses microfones são designados. Pelo ângulo de separação desses microfones e o seu padrão polar cardioide, esse gravador tem um comportamento bem diferente nos modos estéreo e mono. O modo estéreo acaba produzindo dois canais bem separados, sem uma imagem central forte. Esse modo é bem bacana para se capturar ambiências para se usar em filmes. O modo mono possui uma característica interessante. Como a polaridade cardioide acaba repelindo aquilo que vem de trás dela, quando os dois canais são combinados em um só (formando a faixa mono) há um enfraquecimento notável dos ruídos ao redor do microfone e uma melhor imagem central do gravador. Esse modo se torna, portanto, mais adequado para entrevistas e narrações.
(Demonstração da polaridade do Tascam DR-05. No modo Stereo, os dois microfones criam canais diferentes e acabam produzindo uma imagem central fraca. No modo mono, os microfones se combinam e o padrão cardioide de cada microfone rejeita parte do sinal lateral do microfone oposto e se somam no centro, produzindo uma imagem central forte)

Outras propriedades

O DR-05 possui um monte de capacidades no menu. Aqui, o interessante é fuçar mesmo e descobrir o que é mais importante para cada usuário. Por exemplo, o DR-05 possui um afinador integrado, muito útil para quem quer gravar uma música com um instrumento desafinado e não possui ou esqueceu o afinador eletrônico. Como a maioria dos gravadores da atualidade, ele grava em WAV e MP3, em diferentes configurações. No caso do WAV, ele grava em 16 bits ou 24 bits, sendo 16 o suficiente para uma gravação simples e 24 mais adequado para algo que será posteriormente equalizado, editado e masterizado. Lembrando que, caso seja necessário remover ruídos, o ideal é gravar em 24 bits mesmo (ou mesmo em 32 bits, também disponível nesse gravador). Também como de costume, o DR-05 possui taxas de amostragem de 44.1kHz, 48kHz e 96kHz. Entraremos mais nisso em outro post, mas podemos dizer que a taxa de amostragem padrão para gravar filmes ou músicas simples é 48kHz e normalmente se grava muitos instrumentos ou sons mais agudos em 96kHz. Mas isso é um tópico para outro post.

Há uma propriedade de corte de graves (Low Cut) para cortar abaixo de 40Hz, 80Hz e 120Hz. 40Hz seria para um som muito grave, como o som de um motor distante ou de um ar condicionado. 80Hz seria para remover sons como carros passando na rua ou vento. Por fim, 120Hz já invade um pouco a zona da voz, mas é útil caso tenham outros ruídos graves que os outros dois cortes não conseguiram dar conta.

O gravador possui um pequeno leque de efeitos que podem ser utilizados, quase como os que temos em mesas de som, e que modificam o som para criar mais reverberação e fazer parecer que o som está acontecendo em outro lugar. Há também a possibilidade de se modificar o nome dos arquivos, selecionando um nome de até seis caracteres para identificar a gravação. Por fim, a tela do DR-05 é bastante versátil, sendo legível tanto embaixo da luz do sol quanto no escuro.



Pra quem é esse equipamento?

Esse equipamento é para pessoas que querem um gravador portátil decente com um microfone competente, que grave sem compactação (WAV) e que não precise conectar nenhum microfone externo.

Esse texto tem a intenção de ser somente uma introdução, uma análise subjetiva feita para esse site. Para mais informações sobre o gravador, veja o manual no site oficial da Tascam, clicando aqui (em inglês).

3 comentários em “Estereofonia portátil e acessível: o gravador Tascam DR-05”

  1. Ola, Israel. Tudo Bem?

    Sou Marcos Dama estudante de cinema. Estou na face do TCC e o som é a função que fiquei fascinado em saber como o som é um elemento muito impostante para o filme.
    Vendo os seus videos, aprendi muita coisa em relação ao som. Muito obrigado, seus videos são muito bem explicados. Porém fiquei em dúvida sobre a função do desenho de som. Como funciona? Teria algum exemplo? Como seria o conceito de um som dentro do filme?

    Desde Já agradeço.

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  2. Opa Marcos Dama, boa tarde! Cara, tenho um post de introdução às funções de som no cinema no link https://www.audiofilico.com/2017/11/funcoes-em-uma-equipe-de-som-em-um-filme.html

    O desenho de som é uma etapa que pode ocorrer em vários momentos de um filme. Eu diria que o ideal é que ela seja iniciada o mais cedo possível, o ideal sendo já na leitura do roteiro e quem estiver fazendo o desenho de som ter uma boa conversa com quem está na direção da obra audiovisual. Em uma equipe coesa, um bom desenho sonoro feito cedo pode influenciar em várias coisas no filme porque dá um novo ponto de vista (ou, seria melhor dizer, ponto de escuta) sobre o que será gravado.

    Mas é bem verdade que muitas vezes o desenho sonoro só vai acontecer de fato na pós-produção e até a produção o foco de muitas obras é somente gravar os diálogos da forma correta e construir todos os outros elementos sonoros na pós. Esse modelo é muito mais comum em um tipo de audiovisual televisivo ou industrial.

    Há um bom livro de introdução a isso chamado "Introdução ao desenho de som" da Debora Opolski. Hoje em dia não é tão fácil achar esse livro como antigamente, mas a dissertação que foi a base do livro está disponível no site "Artesãos do som". Recomendo a leitura!

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