Em uma época onde fones novos surgem a cada semana e cada vez com melhor qualidade, as pessoas vivem me perguntando qual seria um bom fone de ouvido que elas poderiam comprar. Essa é uma pergunta um tanto difícil de responder, porque alguns fones podem ser excelentes para alguns propósitos e péssimos para outros. Tudo depende de muitos fatores. Nas linhas que seguem, tentarei definir parâmetros que permitem julgar se um fone de ouvido é bom ou não. Daí depende da situação, mas eu indico que pondere cada um dos pontos antes de fazer uma compra.
Esse post também vai ser a base para todas as análises que farei de fones de ouvido no Audiofilico. Aqui, teremos uma delimitação muito grande: No próximo post, falaremos dos três tamanhos de fones de ouvidos e suas aplicações: Intra-auricular (Fone que fica dentro do ouvido, sobre o canal auditivo), supra-auricular (Fone que fica sobre a orelha) e extra-auricular (Fone que fica ao redor da orelha, sobre o crânio). À princípio, o intra-auricular será deixado de lado aqui no site, salvo em raras exceções, por motivos que exploraremos no próximo post. Entretanto, boa parte das características abaixo também são fatores de ponderação sobre os fones intra-auriculares.
Preço
A primeira e óbvia questão é o preço. Um fone de ouvido pode custar milhares de reais, mas a maioria das pessoas não está disposta a investir tanto. Além disso, há a questão da segurança: a maioria dos brasileiros já foi assaltado em algum momento da vida, às vezes por mais de uma vez. Com isso, muitas vezes não convém sair na rua com um fone que chame muita atenção. É triste, mas é verdade. Não vou me delongar muito nesse ponto, até porque os preços mudam com o passar do tempo. Basta dizer que o melhor fone é aquele que você pode comprar.
Conforto
O conforto é um ponto essencial. A posição que um fone de ouvido fica é muito privilegiada para te dar uma bela dor de cabeça. Mesmo nos fones de ouvido intra-auriculares, que não possuem arco, a pressão no canal auditivo pode causar coceira e alguns arranhões. Há aqui um conflito: se o fone for apertado demais, é desconfortável. Se for folgado demais, tende a não ficar estável na cabeça, exigindo que se mantenha uma mesma posição por algum tempo, o que também pode causar um desconforto. Nesse sentido, um mesmo fone pode ser perfeito para um formato de cabeça e horrível em uma cabeça maior ou menor.
Um outro ponto aqui é o calor acumulado pelo fone. Fones extra-auriculares (por vezes chamados de circunaurais ou circumaurais) ficam ao redor da orelha e acumulam mais calor. Isso pode ser bom em um lugar mais frio (como um escritório com um forte ar-condicionado), mas pode ser péssimo em um lugar mais quente.
Por fim, uma parte da população que recorrentemente sofre com desconforto em fones de ouvido é aquela parte que usa óculos. As almofadas pode pressionar as orelhas, que pressionam as hastes dos óculos contra a cabeça, o que pode causar uma dorzinha irritante. Com isso, qual o fone perfeito em termos de conforto? Depende do seu caso, do formato da sua cabeça e do lugar onde você está.
Estilo
Esse é um ponto menos importante para alguns, mas é algo que tem definido o mercado. Desde que a Beats estourou, fones passaram a ser itens da moda, assim como sapatos ou relógios já eram. É engraçado como as pessoas se referem a um fone quando o veem: a estética conta muito. E, sim, acho esse um ponto importante. Talvez seja menos importante que muitos outros pontos dessa lista, mas admito que pode sim ser um elemento que define uma compra. A própria Sennheiser ou AKG, que são mais voltadas para um público profissional, acabaram lançando séries mais populares, como Momentum e Urbanite (no caso da Sennheiser) e as séries assinadas por grandes nomes da música (como a série Quincy Jones na AKG).
Isolamento
Esse é um dos principais pontos dessa lista. O isolamento protege a sua audição ao permitir escutar música com um nível mais baixo e permite que se escute músicas com latitudes sonoras maiores, ou seja, permite que seja possível perceber detalhes maiores em músicas com menor compressão. O isolamento tanto serve para impedir que o som saia e atrapalhe quem está do seu lado como também serve para permitir que você não escute o que se passa ao seu redor, funcionando como um abafador.
Nesse sentido, os fones de fundo aberto são os que isolam menos. Como os fones de fundo aberto são os que normalmente possuem o som com uma maior fidelidade, é possível dizer que muitas vezes você terá que decidir entre isolamento e qualidade de som. Outra coisa que também é possível dizer é que o conforto e o isolamento são, por vezes, inversamente proporcionais. Muitos fones (como o Sennheiser HD 280) acabam apertando muito a cabeça para manter o fone firme e impedir que haja algum vazamento, permitindo que o fone fique bem selado. Essa característica pode causar desconforto.
Fones intra-auriculares podem ser os campeões nesse aspecto, uma vez que eles conseguem, de fato, selar o canal auditivo e se manterem firmes por muito tempo. Entretanto, esse isolamento pode vir com um preço: Em qualquer tipo de fone, é importante notar que um excelente isolamento pode vir a acumular calor e umidade no canal auditivo, algo que pode trazer diversos problemas para a audição, como veremos em posts futuros.
Além do isolamento passivo, temos fones com cancelamento ativo de ruído. Esse tipo de fone busca cancelar qualquer som que esteja tentando entrar no fone através da geração de algum outro som que cancele o som intruso. Existem alguns métodos diferentes para se fazer isso, mas basta dizer aqui que esse tipo de fone pode causar algum desconforto no usuário, apesar de estarem cada dia melhor. O cancelamento ativo provavelmente representa o futuro dos fones de ouvido mais populares, apesar de ainda ser cedo demais para afirmarmos que fones de alta-fidelidade terão cancelamento de ruído recorrentemente.
Qualidade de Construção
A qualidade de construção de um fone é o que define por quanto tempo ele, de fato, ficará com você e pode limitar os usos para os quais aquele fone é indicado. Aqui há um outro impasse: fones que possuam um material resistente e são baratos muitas vezes são pesados; Fones leves e baratos normalmente quebram com facilidade; Por fim, fones leves e resistentes normalmente são mais caros. É como dizer que você tem que escolher apenas dois entre as três opções apresentadas: conforto, preço ou robustez.
Obviamente, temos gratas exceções ao impasse listado acima e são essas exceções que pretendemos caçar aqui no Audiofilico. Alguns pontos importantes para elencarmos são:
- Se o fone aguenta impacto. Isso é particularmente importante para fones que serão guardados na mochila e poderão sofrer pequenos impactos no dia-a-dia.
- Se o fone aguenta suor. O nosso suor é muito ácido, com o tempo, isso pode significar a destruição das almofadas dos fones, além de também corroer algumas partes estéticas do fone.
- Se o fone aguenta o tempo. Muitos fones acabam trincando o arco com o passar de alguns meses ou anos, por ressecar ou porque o material era vagabundo mesmo. E engraçado que aqui eu não tô falando de fones baratos. Existem fones que custam mais de mil reais e possuem o histórico de trincar o arco após algum tempo de uso, mesmo sendo bem cuidados. É importante também que o fone seja fácil de consertar, para que seja feita uma manutenção após alguns anos (exemplo: trocar as almofadas).
Cabo
O cabo é outro ponto central da nossa busca. Algumas questões se elencam nesse assunto:
- O cabo é removível? Muitas vezes, o cabo é a primeira parte de um bom fone que quebra, antecedendo muitas vezes o descascar das almofadas. Um cabo removível permite trocar facilmente um cabo defeituoso ou trocá-lo por outro de tamanho diferente caso seja necessário.
- A extensão do cabo. Muitos dos cabos de fones hoje possuem entre 1,2m e 1,6m de extensão. Muitas vezes isso é o suficiente mas, dependendo do uso, pode ser curto. Além disso, muitos fones possuem cabos de 2 a 5 metros, o que é normalmente grande para uso portátil, mas pode ser útil em um uso doméstico. Se você resolver comprar um fone com o cabo fixo, esse é um ponto importantíssimo.
- O peso do cabo. Muitos cabos são mais espessos e pesados. Isso nem sempre é algo ruim. Um cabo mais espesso pode significar uma blindagem melhor e uma maior durabilidade. Entretanto, um cabo maior significa um peso maior e, em geral, um desconforto maior.
- O tipo de cabo: reto ou bobinado/ helicoidal. A maioria dos cabos são retos, mas alguns (especialmente de linhas mais profissionais) são bobinados. Nos aprofundaremos mais nesse tópico em outro post, mas basta dizermos que o bobinado é mais controlado para se usar em um canto fixo, mas é difícil de enrolar e é mais pesado, sendo normalmente mais indicado para uso em estúdios ou ilhas de edição.
Portabilidade
A portabilidade de um fone de ouvido ocorre em três instâncias: A primeira se refere a notar se o fone terá ou não terá a necessidade de ser usado junto a um amplificador, ou seja, se é um fone que possui uma sensibilidade alta. É importante notarmos que o uso do amplificador possui outras vantagens além de “aumentar o som”, podendo influenciar na qualidade do som em si. Mas podemos dizer que um fone é mais portátil se conseguirmos escutá-lo alto o suficiente em qualquer dispositivo.
A segunda característica da portabilidade, a mais recorrentemente citada, refere-se à capacidade de se poder levar o fone para qualquer canto de forma compacta. Nesse sentido, um fone que dobra e reduz o seu tamanho se torna melhor. Outra característica que pode tornar esse fone melhor é a presença de uma case ou mesmo de um pequeno saquinho de tecido que acompanha o fone e pode protegê-lo de eventuais impactos ou arranhões.
Por fim, a portabilidade pode se referir à capacidade do fone de funcionar sem fio. Esse funcionamento pode ser feito de modo analógico ou digital, sendo mais comum esse último tipo através de conexão Bluetooth. Nesse caso, é importante ponderar também a duração da bateria em um fone sem fio, o que pode limitar bastante o uso.
Som
Por fim, o som. É interessante passarmos por todos os pontos antes de chegarmos ao som para podermos lembrar de que um fone com um bom som não necessariamente é um bom fone. De nada adianta o fone soar muito bem aos seus ouvidos e ser extremamente desconfortável. Também de nada adianta o fone soar super bem e você não poder levá-lo para o local onde poderia escutá-lo. Com isso, estabelecemos que, ao contrário de caixas de som, o som nem sempre é uma prioridade nos fones de ouvido.
Julgar um fone como bom ou ruim por meio do som pode ser uma tarefa muito difícil, até porque não existe um som “certo”. Se você estiver gravando um som, normalmente é necessário monitorar com o fone mais clínico possível, normalmente com um pequeno palco sonoro e com muitos detalhes (mesmo em regiões do som que possam ser consideradas mais desagradáveis). Se você estiver buscando um fone para ver um filme, será melhor achar um com um palco sonoro maior, mais suave e menos clínico. Cada gênero musical terá a sua característica sonora e se beneficiará de respostas em frequência diferentes, podendo um gênero musical ser mais rico em um fone que em outro. Muitas vezes, é melhor se ter um fone colorido (com ênfase em diversas regiões do som) do que um fone neutro.
Com isso, elencarei abaixo as características sônicas que buscarei definir nos fones aqui nas análises do Audiofilico, mas de fato, não há como dizer que um fone possui um som perfeito: depende da aplicação.
- Detalhamento: o quanto esse fone mostra clinicamente do som reproduzido. Pela própria natureza da reprodução, esse é um dos pontos que fones são mais indicados que caixas de som.
- Neutralidade: o quão o fone enfatiza ou não diferentes áreas de frequências sonoras.
- Palco sonoro: a sensação de espaço em um fone pode se maior ou menor.
- Rapidez: relativo ao controle do fone sobre o som produzido. Normalmente um fone mais rápido é melhor.
- Maciez: Quase o contrário de detalhamento, essa característica se refere ao quanto o fone é mais “folgado” ao reproduzir diferentes sons. Normalmente um som mais macio é mais agradável ao ouvido.
- Distorção: define a facilidade de algumas frequências estourarem no som do fone (muito recorrente em frequências graves) e a quantidade de harmônicas indesejáveis geradas pela estrutura do fone (também chamado de distorção harmônica ou THD).