Nos últimos 20 anos, a história da captação de som para o audiovisual mudou muito. O uso da fita magnética entrou para a história (com algumas poucas exceções) e a mídia digital passou a reinar soberana. Gigantes da indústria como Nagra ou Sony tentaram se reinventar, mas muitas dessas marcas perderam espaço de mercado e, de certa forma, mudaram sua aproximação do público. Nos últimos anos, marcas tradicionais como Samson, Zoom ou Aaton acabaram ganhando muito espaço no público profissional do audiovisual.
Uma das marcas que soube se reinventar foi a Tascam. Apesar de produzir material para o público profissional com mais poder de compra, a Tascam é recorrentemente lembrada como a marca que produz equipamentos pra gente como eu: completamente desprovido de dinheiro. Na década de 1970, essa marca foi a primeira a produzir equipamentos com vários canais para gravação doméstica e, com isso, foi muito utilizada pelas “bandas de garagem”.
Nesse post, analisaremos o gravador DR-60D da Tascam, um gravador voltado para ser utilizado com uma câmera DSLR em um tripé, mas também pensado para ser utilizado em campo, de forma independente da câmera. Considero-o um bom gravador para se usar em filmes ou outras obras audiovisuais e nas próximas linhas falarei sobre seus pontos fortes e fracos.
Botões e controles
Uma das principais questões na portabilidade na hora de gravar é a quantidade de controles. Para mim, é essencial que se tenha um mínimo de controles que sejam fáceis, rápidos e silenciosos. Esse último ponto é o mais crucial, já que que muitas vezes se gravam algumas cenas onde qualquer som de clique seria notável. Nesse sentido, um botão normalmente é pior que um controle giratório (knob) que é pior que um controle deslizante (slider).
No DR-60D, encontramos knobs para controle do ganho de gravação e botões emborrachados para parte dos comandos. Esses são completamente silenciosos e práticos de serem utilizados. Para navegar no menu, há um knob-botão no centro do painel frontal do gravador. Esse knob provou ser o ponto fraco da construção desse gravador: após alguns meses de uso, é comum que ele se desencaixe com facilidade, devendo se ter cuidado para não perde-lo. Os botões de navegação do menu fazem algum barulho de clique. Imagino que o projetaram para ser usado antes e não durante as gravações.
Nas laterais, temos controles de volume de saídas: No lado esquerdo, temos uma saída de ganho baixo e no lado esquerdo, temos a saída de ganho alto e o local para se encaixar os fones de ouvido. Todas essas saídas possuem seus próprios controles de volumes o que vem a ser bastante útil. Conectei fones de ouvido nas saídas que não são destinadas para isso e, até onde testei, não vi problemas, o que significa que é possível conectar mais de um fone nesse mesmo gravador, controlando o volume de cada fone separadamente. Entretanto, na entrada de ganho baixo (por razões óbvias) o fone não chega a ficar alto o suficiente. Portanto, diria que dá pra usar bem dois fones nesse gravador.
Por fim, no canto direito, também temos o controle de liga e desliga e a trava que bloqueia todas as teclas caso isso seja necessário. A trava não atua sobre os knobs, apenas sobre os botões. Sendo assim, pode ser útil durante uma gravação, evitando que se corte o arquivo por acidente ao apertar a tecla stop sem querer.
Portabilidade
O DR-60D é um gravador leve, fácil de transportar e relativamente pequeno. Não chega a caber no bolso, mas cabe em qualquer bolsa de colo ou mochila com facilidade. Uma das coisas que mais chamam a atenção no gravador são dois suportes de alumínio nos lados do painel frontal, que têm o propósito de segurar uma alça para o gravador ser levado a tiracolo. Esses suportes são da cor prata na primeira versão do gravador (Tascam DR-60D) e de cor vermelha na segunda versão (Tascam DR-60D Mark II). Eu não confiaria nessa estrutura. Parece-me um tanto frágil, especialmente se contarmos o peso das pilhas e de cabos juntos do gravador. Com isso, o que recomendo é a utilização de uma bolsa de colo ou uma mochila de alça única, para usar como suporte do gravador caso ele seja usado em movimento ou não possa ter um suporte para colocá-lo sobre.
O gravador também possui um parafuso de 1/4 de polegada no topo e uma rosca de 1/4 de polegada em sua base, o que permite colocá-lo em um tripé de câmera e acoplar uma câmera em cima dele, caso esteja se usando ele e uma câmera ao mesmo tempo. Só que eu não indicaria isso: o ideal é cada um no seu quadrado: ou você filma, ou monitora áudio. Se você tentar fazer os dois, corre mais riscos de não perceber falhas tanto no vídeo quanto no áudio, por estar com a sua atenção dividida.
Quanto à alimentação, ele pode tanto ser mantido por pilhas como por meio do cabo mini-USB. O cabo USB, que encaixa no lado direito do gravador, pode ser conectado a um computador, a uma bateria USB externa (popularmente conhecidas como powerbanks) ou à tomada, utilizando uma tomada USB. Entretanto, desses métodos, somente o uso de pilhas terá um indicador de bateria. Para usar via alimentação USB, basta conectar o cabo à fonte de energia e ligar o gravador. Aparecerá “Storage” ou “Bus Power”. Selecione “Bus Power”.
Entradas
No painel esquerdo, temos as entradas de sinal do fone. São duas entradas mono P10/XLR e uma entrada estéreo P2. As entradas mono terão um ganho maior e têm a possibilidade de uso de phantom, sendo assim as únicas entradas que poderiam alimentar um microfone condensador. Creio que o propósito da entrada estéreo P2 seja de utilizá-la junta um mixer ou mesa de som, onde a saída já terá um ganho maior e já sairá em estéreo. Há também uma entrada para se colocar um cabo que venha diretamente de uma câmera que esteja sendo utilizada com o gravador e uma entrada para se encaixar um disparador remoto. Não tive acesso a esse disparador para essa análise, então não pude verificar se funciona muito bem, mas diria que me parece um item pouco útil, uma vez que creio que a pessoa que lida com esse gravador deve estar sempre próxima para poder ler o sinal na tela do gravador. Mas imagino que possa se haver uma situação onde seja possível ver a tela mas não seja possível mexer no gravador e nessa situação o controle remoto pode ser bastante útil.
Ganho
Um dos principais motivos para se comprar esse gravador é o ganho que ele consegue produzir no sinal capturado. Ele possui alguns níveis de ganho: low, mid, high e high+. (Na primeira versão do gravador, ele não tem o high+, estando presente apenas no Tascam DR-60D Mark II). Os ganhos high e mid são os que mais utilizei em testes e creio que sejam os mais interessantes em termos de relação sinal-ruído. No ganho high+ já é possível ouvir um ruído branco ao fundo da gravação, o que me faz pensar que esse ganho só deve ser utilizado em um caso onde o microfone gere um sinal absurdamente baixo. Já o nível low deve ser utilizado apenas em casos de gravação de fontes sonoras muito intensas, como tiros ou explosões, ou mesmo um show onde o som esteja muito alto.
A relação sinal-ruído desse gravador é impressionante para o seu preço e tamanho. Na verdade, é um ganho comparável a gravadores que são facilmente o dobro de seu preço. Microfones mais baratos como o Rode NTG-2 podem se beneficiar muito disso, uma vez que microfones bons e baratos normalmente não têm um bom ganho.
Outras Propriedades
Uma outra característica bacana do Tascam DR-60D é a capacidade de colocar nomes nos arquivos que você gerar. Você pode escolher um nome com até 6 caracteres e o gravador vai criar vários arquivos com esse nome. Por exemplo, você pode nomear os arquivos como “CENA37” e todos os arquivos gerados a partir de então terão esse nome. Para o processo de organização de arquivos (logging), essa é uma característica muito útil e que pode salvar um tempão, além de ajudar no preenchimento do boletim de som em uma obra audiovisual.
Além disso, o DR60D permite que você gere dois arquivos de um mesmo áudio (modo dual). No primeiro você controla a sensibilidade da gravação. O segundo é mais baixo que o primeiro, um valor selecionável entre 3dB e 12dB a menos. Isso permite que você tenha uma margem de segurança, evitando estourar o sinal. Suponhamos que você esteja gravando um documentário: muitos ruídos indesejáveis e aleatórios podem te atingir. Algum ruído pode ser alto demais e estourar o seu áudio, tornando-o irrecuperável. Tendo o segundo arquivo a, por exemplo, -6dB, você terá um segundo arquivo de áudio que não terá estourado. Essa característica, obviamente, cria um problema de espaço no cartão, uma vez que gerando dois arquivos se ocupa mais espaço, mas como um cartão de 16gb já fornece horas de gravação no modo dual, isso só deve ser uma preocupação em uma situação extrema.
Como a maioria dos gravadores profissionais da atualidade, o DR-60D permite gravar em diversas taxas de amostragem e diversas profundidades de bits. Além disso, é permitido regular a posição estereofônica (pan) de cada canal de entrada, ou seja, é permitido colocar um microfone mais para o canal esquerdo ou direito. Isso permite separar duas entradas completamente, fornecendo a possibilidade de editá-las individualmente na pós produção.
MODOS
MONO: Todos os canais de entrada são mixados em um único canal. Esse é o modo que gera o menor arquivo, sendo indicado para situações onde não se haja espaço suficiente no cartão de memória.
STEREO: Mixa os sinais que estão entrando no gravador em dois: o esquerdo e o direito. Lembre-se que os sinais podem estar no centro. Caso você queira editá-los separadamente, indico jogar um sinal totalmente para a esquerda e outro totalmente para a direita.
DUAL MONO ou DUAL STEREO: esses são os modos que gravam duas faixas em níveis diferentes. Se a mais alta estourar, pode-se usar a segunda faixa como opção não estourada.
4CH: Cria dois arquivos, um proveniente das duas entradas XLR e um proveniente da entrada estéreo P2. É o que mais consome memória. As duas gravações serão diferenciadas pelos algarismos finais do nome do arquivo. O que grava os XLR/P10 terminará em “12” e o que grava o P2 estéreo terminará em “34”.
Pra quem é esse equipamento?
Esse equipamento é para pessoas que querem um gravador portátil com um ótimo ganho e com bons controles durante a gravação, mas que não precisam de mais do que dois microfones e que não precisam de um microfone embutido.
Esse texto tem a intenção de ser somente uma introdução, uma análise subjetiva feita para esse site. Para mais informações sobre o gravador, veja o manual no site oficial da Tascam, clicando aqui (em inglês).
Muito bem explicado, estou iniciando no universo de áudio visual, e literalmente sem conhecimento algum, navegando net afora em busca de informação, estou produzindo alguns cursos online utilizando uma DSLR, e para captar um bom aúdio adquiri o Tascam D60 Mk II + um shotgun sennheirser mke 600, e até aqui já consigo obter algumas informações valiosas de utilização:
Usar Modo Phanton
Usar 48khz/24bits
Usar cartão 32G já é o bastante p 1 dia de trabalho
Gravar modo dual em Mid
A única dúvida que ainda tenho é sobre a entrada, como meu mic vem com plug XLR e a outra ponta do cabo é P10, logo é a ponta P10 que vai ser conectada no tascam, porém tudo que leio diz que um conector XLR me daria um áudio melhor, devo comprar uma adaptador para meu conector P10 virar um XLR? Ou adaptador por si só já faz perder qualidade?
Portifólio, o cabo que conduz Phantom tem que ser obrigatoriamente XLR-XLR. Não indicaria um adaptador. Indico que compre um xlr-xlr para um sinal corretamente balanceado.
Muitíssimo obrigada, irei comprar.
Outra coisa que percebi, o cabo que veio com o mke 600 é um XLR-P2, e eles enviaram um adaptador de P2 para P10, bati cabeça até não aguentar mais para entender o porque o microfone não funcionava no Tascam quando eu plugava o adaptador e plugava no canal 1 e 2….até perceber que o adaptador de P10 só funciona com plugs P3…foram horas testando microfones que tinha pela casa….a sorte é que tinha um lapela P3 que funcionava para poder comparar os cabos….mas o que não intendi foi o pq enviaram esse adaptador junto com o microfone, se ele só serve para P3…sendo que o cabo que veio é P2….enfim, o que quero dizer é que talvez essa informação seja útil para o blog.
Que esquisito. Mas de fato isso responde algumas questões que eu mesmo tinha. Obrigado!
Um outra dúvida, estou utilizando pilhas recarregaveis nele de 2950MAH 1.2v, essas pilhas duram no máximo 2 horas, alguma indicação ou informação sobre esse assunto? qual marca, ou voltagem ideal para uma duração maior
Posso usar ele pra gravar músicas para cd???