Equipamentos básicos para a gravação de som na produção de um filme

A realização de um filme possui diversas etapas. A pré-produção é uma etapa de organização de tudo que ocorrerá a seguir, onde se fecham todas as datas, cronogramas, locações, itens de figurino, cenário, inicia-se a preparação dos atores e todas as equipes se formam e se organizam. Para o som (como vimos nesse post), essa pode ser uma fase de fechamento de um primeiro desenho sonoro, essencial para se definir alguns dos equipamentos a serem utilizados. Logo depois, inicia-se a produção onde, de fato, se grava um filme. Apesar de muitos dos sons ainda serem gravados na pós-produção (etapa de edição onde podem ser gravados sons de Foley e arquivo, por exemplo), o som de produção é o que define a base para a criação desses outros sons.

Sabemos, portanto, que os equipamentos utilizados em uma gravação podem ser diferentes de um filme para o outro, mas o sinal sempre segue um mesmo caminho básico. É sobre esse caminho eletroacústico básico que iremos falar abaixo. Entretanto, essa postagem não se propõe a ser um guia definitivo de uso de equipamentos em um filme. Ao mesmo tempo, os equipamentos listados abaixo não são para uso exclusivo fílmico, mas podem ser utilizados em diversas outras situações. Entretanto, a configuração para gravação em estúdio (relativo ao som feito na pós-produção ou gravações de música) ou a configuração para música ao vivo são um tanto diferentes da listagem abaixo e terão uma postagem própria. Dito isso, vamos aos equipamentos.

Microfone

Os microfones são os primeiros e qualquer gravação de som e a sua função principal é de gerar o sinal. Todo sinal possui uma relação sinal/ruído e dizemos que um microfone com um sinal com pouco de ruído é um sinal com alto ganho, definição que vai valer para todos os equipamentos eletrônicos daqui pra frente, uma vez que todo equipamento eletrônico gera ruído.
Em geral, ao falarmos de microfones em um filme, o primeiro microfone a ser citado é o shotgun, e por uma boa razão: o shotgun é um microfone relativamente versátil, que serve para gravar vários tipos de sons diferentes e permite uma certa distância da fonte sonora, uma vez que possui o tubo de interferência (que já definimos nesse post). Essa distância permite que o microfone fique fora de quadro, algo essencial para filmes de ficção.

Entretanto, o shotgun pode são ser ideal para diversas aplicações, uma vez que é relativamente grande e fica bem maior se contarmos com a vara de boom que normalmente o carrega. O microfone lapela é o tipo de microfone que mais pode se aproximar da fonte sonora, o padrão XY e o padrão AB permite que gravemos várias fontes sonoras ao mesmo tempo e o microfone de bola é o que menos sofre interferência externa em ambientes altamente ruidosos (muito útil em alguns documentários e reportagens), apesar de ter que ficar bem próximo à fonte para captar o sinal corretamente. Dos tipos de microfones mais comuns, apenas o microfone de largo diafragma é raramente utilizado na realização de um filme, sendo mais comum em programas de entrevista ou se o microfone em si já for um objeto de cena (filmes sobre cantores, por exemplo).

A configuração mais comum que se usa é um lapela para cada ator que tem falas na cena e pelo menos um shotgun para capturar um som geral, uma vez que o som do lapela pode ser um tanto “fechado”. Cabe à equipe de som definir qual o melhor microfone a ser utilizado. O orçamento do filme pode limitar muito a escolha, mas normalmente é possível alugar um equipamento para alguma cena específica.

Cabo

Uma vez que o sinal sai do microfone, ele passa pelo cabo (e sempre passará por cabos entre um equipamento e outro). Portanto, a função dos cabos e conectores é de servir de meio para a transferência do sinal entre equipamentos. É interessante que a produção tenha diversas medidas de cabos disponíveis. Se o cabo for muito pequeno, será impossível manusear corretamente os equipamentos. Se o cabo for muito longo, poderá se tornar um peso desnecessário, aumentar o risco de interferências de rádio ou eletromagnéticas e por fim pode se tornar um risco no meio do set, uma vez que não é raro pessoas da equipe tropeçarem em cabos de som e de energia. É importante lembrar que jamais deve-se cruzar um cabo elétrico com um cabo de som, uma vez que isso causaria uma interferência inevitável no sinal sonoro.

Preamplificador

O preamplificador recebe o sinal diretamente do microfone e o seu objetivo é aumentar o ganho (ou seja, aumentar o sinal sem aumentar o ruído). Muitos microfones, em especial microfones dinâmicos e condensadores mais baratos, são muito dependentes de um preamplificador bom. Hoje em dia é raríssimo gravar-se com um preamplificador dedicado. Normalmente, esse equipamento está embutido no mixer ou no gravador. A maioria dos gravadores ou mixers dão a opção de se ajustar o ganho do preamplificador (normalmente chamado de “trim” ou “ganho”) e outra opção de se ajustar nível do sinal no gravador. A diferença entre esses dois níveis é que o ganho do preamplificador altera a relação de sinal/  ruído e o nivelador do gravador normalmente não faz isso, permanecendo o nível de ruído mais constante nessa segunda opção. Ou seja, em geral é desejável que se ajuste o trim antes da gravação a um nível um pouco acima do nível do sinal que se espera captar, encontrando um ponto ideal de relação sinal/ ruído. Durante a gravação, o ideal é que seja usado o nivelador do mixer ou do gravador para fazer ajustes.

Mixer

A função do mixer é a de receber o sinal de vários microfones e combiná-los em um dado número de canais. Em geral, são dois canais de saída, mas isso tem mudado a cada ano que passa. A mesa de som nada mais é do que um mixer de estúdio. Por isso, o mixer de produção por vezes recebe o nome de mixer de campo (Field Mixer), que indica a sua portabilidade. Mas o princípio é o mesmo: combinar sinais. Em geral, em um filme, o número de microfones é muito menor do que em uma gravação de música ao vivo, mas mesmo assim é necessário mixar, deixando o som o mais inteligível possível, não deixando, por exemplo, que um microfone que grava ambiência esteja mais alto que o microfone que grava a voz.
Outra função do mixer é a de fornecer mais controle ao técnico de som, uma vez que normalmente esse equipamento vem equipado com knobs de ajuste, que são muito mais intuitivos e práticos em termos de uso do que botões. Entretanto, nos últimos anos, muitos gravadores estão saindo com vários canais de entrada e capacidade de controle tão boas quanto as de um mixer (por exemplo, o Tascam DR 70d e o Zoom F8), além de um bom preamplificador. A tendência é que os mixers dedicados venham a desaparecer nos próximos anos (exceto no caso de mesas de som), uma vez que ter um bom equipamento que tenha todas as necessidades básicas de uma gravação torna tudo mais portátil, algo essencial para uma gravação de campo.

Gravador

A função do gravador é receber os canais de saída do mixer e fechar o arquivo de áudio (também chamado de contâiner de áudio). A maioria dos gravadores da atualidade gravam em WAV e MP3, também adequando o sinal a alguma PCM (Pulse-Code Modulation) especificando a profundidade de bits (Bit Depth, a latitude do áudio, normalmente 16bits ou 24bits) e a taxa de amostragem (Sample Rate, a quantidade de informações coletadas do sinal analógico por segundo para formar o sinal digital, normalmente 44.1kHz, 48kHz ou 96kHz). O gravador também dá o nome do arquivo e um bom gravador te dará a possibilidade de programar um nome para os seus arquivos.

Mídia de armazenamento

Como última parte, temos a mídia de armazenamento, que guarda o arquivo gerado pelo gravador. Normalmente os gravadores hoje em dia vêm com slots para cartões SD e MicroSD e, a princípio, isso não deve mudar tão cedo. Câmeras de vídeo tem passado a utilizar SSDs como opção para uma gravação mais rápida com maior capacidade para armazenamento. Entretanto, mesmo um áudio de alta qualidade ainda é muito menor que um vídeo da mesma duração, o que permite com que mesmo cartões relativamente lentos possam ser usados para a gravação de som. A indicação mesmo é que sejam usados cartões de confiança, que não correrão o risco de pifar durante a gravação.
Há também a possibilidade de gravar e armazenar em algum computador próximo através de uma rede sem fio, presente em gravadores como o Tascam DR44-WL. Entretanto, essa ainda é uma alternativa mais lenta, que gasta mais bateria e que por vezes precisa comprimir mais o arquivo para conseguir fazer a transferência em tempo real.


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