Quanto maior, melhor: fones intra, supra e extra-auriculares

Das diversas formas de classificarmos fones de ouvido, nenhuma é mais citada que o tamanho dos fones, especificamente porque isso determina tantos fatores que podemos até generalizar muitas coisas sobre os três diferentes tamanhos. O que determina o tamanho de um fone não é o tamanho do falante ou da concha em si, mas onde o fone se apoia. Se o fone se apoia no canal auditivo, esse fone é chamado de intra-auricular. Se ele se apoia sobre a orelha, é chamado de supra-auricular. Por fim, o fone extra-auricular (também chamado circumaural ou circunaural) se apoia sobre o crânio, ficando ao redor da orelha. Na foto acima, temos os três exemplos de tamanho na série Momentum da Sennheiser. Nas próximas linhas, exploraremos com maior profundidade cada um desses tamanhos, listando suas vantagens e desvantagens mais comuns.

Intra-Auricular

(Apple Earpod, um dos modelos intra mais importantes da última década)
O menor e mais comum dos fones de ouvido é também o que menos exploraremos aqui no Audiofilico. Tenho bons motivos para isso, mas antes, vamos falar das vantagens desse tamanho de fone.

Vantagens:

  1. O fone intra-auricular é, facilmente, o mais barato dos três tipos. Apesar de ser possível listarmos fones intra-auriculares muito caros, é comum encontrar esse tipo de fone por um preço muito acessível. Por esse motivo, esse é o fone que normalmente acompanha os smartphones atuais.
  2. É também o mais portátil, sendo facilmente colocado em um bolso ou em um pequeno compartimento de uma mochila.
  3. É também o mais discreto, sendo útil como retorno de palco para cantores e para profissionais que usam ponto de comunicação portátil (como profissionais da área de segurança, da área de organização de eventos e de áreas militares ou paramilitares).
  4. Muitos intra-auriculares são sustentados por uma pequena borracha que sela muito bem o canal auditivo. Com isso, os IEMs (in ear monitors, nome normalmente atribuído a intra-auriculares de melhor qualidade, voltados para o público profissional) são tidos muitas vezes como a melhor opção para isolamento acústico.
E essas são as vantagens do intra. Agora vamos às desvantagens para podermos entender o quão limitado e prejudicial esse fone pode ser.

Desvantagens:

  1. Pelo seu tamanho reduzido, os intra-auriculares possuem o menor dos falantes. Normalmente, o falante é de 10mm, muito menor que os de 40mm que normalmente encontramos nos fones supra e extra. Isso causa uma limitação grande na reprodução, em especial na reprodução fiel de graves. Ondas sonoras não podem ser miniaturizadas.
  2. Como muitos desses fones se apoiam no canal auditivo, é comum que eles empurrem a cera de ouvido mais para dentro, o que pode gerar diversos problemas e eventualmente corroborar para a geração de uma “rolha de cera”, tampando o canal. Se o usuário remove a cera de ouvido recorrentemente (o que não deve ser feito, exceto se por indicação de um médico) isso causa um problema maior, uma vez que a cera serve para proteger o canal auditivo.
  3. Além disso, o fone intra dificilmente é bem limpo pelos usuários antes de ser utilizado. é comum que o usuário coloque esse tipo de fone num bolso sujo e, ao retirar, coloque-o diretamente no canal auditivo, jogando um pouco de sujeira lá dentro, o que pode eventualmente ajudar a causar uma infecção. Quem usa esse tipo de fone recorrentemente deve limpa-lo sempre antes de cada uso, nunca trocar as orelhas (ou seja, nunca usar o fone direito no ouvido esquerdo e vice-versa) e nunca compartilhar esse tipo de fone com ninguém. Fazer isso reduz muito as chances de esse fone jogar sujeira no canal auditivo e corroborar para uma infecção.
  4. O canal auditivo possui uma pele muito fina e delicada, que pode machucar com alguma facilidade. Como o fone intra cai do ouvido naturalmente, é comum o usuário empurrar o fone com força para dentro do canal auditivo, por vezes causando pequenos machucados que podem gerar coceiras ou cascas de ferida dentro do canal. Acredite, você não quer ter um machucado real no canal auditivo.
  5. Por ser muito pequeno, é também o mais difícil de consertar. Normalmente, quando um fone desse dá problema, a solução é jogar fora e comprar outro.
  6. Para pessoas com rinite, o fone intra-auricular pode ser um gatilho para uma coceira no canal auditivo causada por esse problema de saúde.
Com isso, não farei muitas análises de fones intra no Audiofilico, pelo simples fato de não usá-lo no meu dia-a-dia. Creio que outros sites e canais possam falar mais desse tipo de fone mas, por cuidados com minha saúde auricular, não devo explorá-lo.

Supra-auricular

(Koss PortaPro, um dos mais importantes supra-auriculares da história)
O fone supra-auricular cai em um meio termo um tanto esquisito: nem é pequeno como o intra (que é mais barato e mais portátil) e nem é grande como o extra (que normalmente permite um som melhor). Mesmo assim, temos motivos sólidos para escolhermos esse tamanho, como veremos abaixo.

Vantagens:

  1. O fone supra auricular é mais leve que o extra-auricular. Isso, em geral, significa que há menos pressão sendo exercida sobre o arco do fone. Não é incomum vermos uma mesma série de fones de ouvido com versões supra e extra auriculares e a supra ter uma maior durabilidade. Com isso, e levando em consideração o que vimos sobre intra-auriculares, creio que o supra auricular é o que tem o maior potencial para durar muito tempo sem quebrar.
  2. Os fones supra não vedam a orelha por completo, o que faz com que eles acumulem menos calor ao redor da orelha. Dito isso, creio que os supras auriculares sejam, em geral, o modelo mais adequado para se praticar esportes, uma vez que ele não esquenta tanto quanto o extra e fica mais firme na cabeça do que o intra.
  3. O supra auricular pode ser um bom meio termo. Ele não tem as propriedades danosas do intra auricular, mas também não é tão volumoso quanto o extra-auricular. Daí, creio que seja o fone mais adequado para se jogar na mochila e levar consigo.

Desvantagens:

  1. Como o supra auricular não fica fixo no canal ou ao redor da orelha de forma firme, ele acaba se movendo pra frente e pra trás com alguma facilidade. É uma diferença de milímetros, mas é o suficiente para mudar a assinatura sonora do fone. Com isso, recomendo que o usuário teste continuamente a posição desse fone sobre o ouvido, buscando a melhor posição de escuta.
  2. Como ele não sela nem o canal auditivo nem o espaço ao redor da orelha, o supra auricular é o pior tamanho em termos de isolamento acústico. Isso complica um pouco a minha indicação de usá-lo em todo canto (a terceira vantagem que listei acima) porque é possível que você tenha que aumentar muito o volume do dispositivo de reprodução para escutar em um ambiente barulhento, prejudicando a sua audição. Mas, como veremos, isso varia muito de fone e alguns modelos conseguem isolar minimamente para se escutar em locais com algum barulho.
  3. Para pessoas que usam óculos, esse é o pior modelo. O fone faz um “sanduíche de orelha” com os óculos: pressiona a orelha, que pressiona a haste dos óculos, que pressiona o crânio. Dependendo da pressão que o fone exerce, isso pode causar uma dor na orelha, o que eventualmente poderá causar uma dor de cabeça.

Fones supra-auriculares são, provavelmente, o que devemos ter mais cuidado ao generalizar. Temos supra auriculares bem pequenos (como o Sennheiser Px200 e Px100) mas também temos alguns um tanto maiores, como o Sony XB650. Com isso, fica difícil dizer regras gerais sobre esse tamanho, mas as regras que listei acima valem para a grande maioria deles. Vamos então para os grandões da família, os Extra-auriculares.

Extra-auricular

(AKG K240, um dos Extra-Auriculares mais importantes dos últimos 50 anos
e uma boa opção para iniciantes no mundo da audiofilia de fones)
Os extra-auriculares são sustentados sobre o crânio. Por vezes, eles são chamados de circunaurais ou circumaurais, justamente por estarem ao redor (“circu-“) da orelha (“-aural”). Seja como for, é nessa categoria que encontramos os melhores fones que existem em termos de resposta sonora. É provavelmente a categoria que mais exploraremos aqui no Audiofilico. Vamos às listas:

Vantagens:

  1. Fones desse tamanho geralmente não apertam tanto a orelha e não se sustentam no canal auditivo, o que faz com que eles sejam por vezes os mais confortáveis para se usar a longo prazo. Quanto melhor o fone extra, em geral mais ele é feito para se adequar ao formato da sua cabeça.
  2. No caso de fones abertos, esse normalmente é o tamanho que permite a melhor respiração do canal auditivo por ter uma maior área aberta. Ou seja, nesse caso, esse fone acumula menos calor.
  3. Pelo tamanho da área onde fica o falante, é mais possível, na confecção do fone, ter um melhor controle da bagunça sônica que é um fone de ouvido: um monte de frequências acumuladas em um mesmo lugar pequeno. Com isso, esse fone permite que o engenheiros coloquem mais espaços de reflexão e absorção, permite posicionar o falante em ângulos que direcionem melhor o som gerado para o canal auditivo e várias outras propriedades físicas que definem um som de um fone. Esse é o fone que tem o melhor potencial para gerar um bom som.
  4. Como tudo é maior nesse tamanho, é mais fácil consertar ou modificar esse fone. Com isso, também é relativamente mais fácil achar peças para esses modelos – apesar de que, nos últimos anos, a internet torna possível encontrar peças para muitos modelos supra também.

Desvantagens:

  1. Fones desse tamanho acabam colocando um peso maior no arco. Não é incomum ver fones extra-auriculares quebrarem uma pequena parte da estrutura do arco após alguns anos de uso, mesmo tendo cuidado. Obviamente, estou falando em grande parte de extra-auriculares mais baratos, mas alguns modelos mais caros podem sofrer desse problema.
  2. O peso pode ser um grande problema. Se não houver um bom design ou mesmo se o design do fone não casar com o formato da sua cabeça, é possível que o fone gere um desconforto por dois motivos. O primeiro é que o peso do fone não vai ficar espalhado e pode gerar um incômodo em alguma região da cabeça. O segundo é que se o fone extra-auricular que não se encaixar bem na sua cabeça pode escorregar se você incliná-la pra frente ou pra trás, o que faz com que você tenha que permanecer  relativamente ereto, que pode causar algum enfado depois de algum tempo.
  3. O preço também é um problema. Apesar de o extra-auricular ser mais possível de consertar que os outros dois (valendo o investimento a longo prazo), é o tipo de fone mais caro que temos no mercado, impedindo muitas pessoas que adquirir um bom extra-auricular.
  4. A portabilidade é um problema muito grande para esse tipo de fone. Além de ser grande, é mais comum encontrar supra-auriculares que dobram para um tamanho mais compacto e extra-auriculares que não dobram de jeito nenhum. Como o extra-auricular possui uma concha mais pesada, também é mais complicado colocar uma dobradiça em sua estrutura, uma vez que os parafusos vão estar segurando mais peso e eventualmente, de tanto abrir e fechar o fone, esses parafusos podem forçar a estrutura do fone e quebrá-lo. Com isso, temos muitos fones extra que precisam de uma case bem grande e não são facilmente transportáveis em mochilas pequenas.
Essas são as diferenças básicas entre os três diferentes tamanhos de fones. Muitas exceções poderiam ser elencadas, mas ficaremos por aqui e exploraremos as exceções nas análises de modelos que faremos futuramente.

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