Spotting e como fazer Cue Sheets

No processo de fazer o som de um filme, a equipe de som pode encontrar várias dificuldades: qual o equipamento utilizar, limitações de orçamento, barulhos inevitáveis numa locação, ter uma boa relação com as outras equipes. Mas talvez nenhuma dessas seja tão difícil quanto a etapa de Spotting, uma das etapas onde o som mais é cobrado criativamente.

O que é o Spotting?

O Spotting acontece normalmente depois das gravações e depois de um primeiro corte já feito. Muitas vezes o Spotting também ocorre após se haver uma primeira edição de diálogos, onde alguns ruídos do set são removidos e substituídos por sons de preenchimento gravados no set. O Spotting consiste em notar (daí o nome “spotting” que, nesse contexto, significa “notar” em inglês) os sons que estão faltando. Desse trabalho sairão Cue Sheets, listas que dizem quais são esses sons e quando que eles devem aparecer no filme. As Cue Sheets definem logística, calendários e orçamentos da pós produção de som.

Todas as Cue Sheets possuem 4 elementos básicos: a minutagem do início do som que vai ser adicionado, a minutagem do fim desse som, a duração do som e a descrição de o que é aquele som.  Em geral, a direção do filme se reúne com a equipe de som (e às vezes com outras partes criativas da equipe) para listar três grandes categorias de som que precisam ser adicionados no filme: ADR, Efeitos Sonoros e Música. Vamos entender como essas Cue Sheets se comportam em cada uma das categorias listadas acima.

ADR

As Cue Sheets de ADR possuem diálogos que serão regravados ou falas que serão adicionadas na pós. Essas Cue Sheets possuem a descrição das falas a serem regravadas pelo elenco e indicações da tonalidade daquela fala (para poder orientar quem está lendo). Muitas vezes o ADR é feito porque o ator não atingia a tonalidade da fala que era esperada na gravação e pede-se para refazer. Às vezes, o ator fez tudo certo, mas há algum barulho sobre a fala desse ator (algo que acontece recorrentemente em locações e menos em estúdios) que estragou o som captado.

Efeitos Sonoros

As Cue Sheets de Efeitos Sonoros são as mais longas e com o maior número de sons para adicionar. Essas são as cue sheets que vão para as mãos da equipe de Foley e também para quem for captar som de forma externa ou buscar em algum arquivo de sons. Todos os sons devem ser listados aqui: do bater de uma porta ao ranger da mesma, da personagem caminhando ao barulho dela apagando um cigarro com a sola do tênis, do avião passando e do som da cidade ao longe. Esses sons ajudarão a construir a atmosfera do filme e ajudarão o espectador a entrar mais no universo narrativo, além de muitas vezes guiarem a história em si.

Música

As Cue Sheets de Música mostram onde a música está no filme: se ela está completa ou se será só uma parte da música. Se a música ainda for ser composta, A cue sheet de música indica qual a tonalidade e tipo de música que deve ser usada em determinada cena, o que pode ajudar tanto a compor alguma música para aquele momento, quanto ajuda na seleção de alguma música já existente. A Cue Sheet de música pode também ter uma função legal, desempenhando uma boa função no acordo de uso da música firmado em um contrato. Dessa forma, se uma Cue Sheet deixar claro que a música será utilizada por apenas um minuto no filme todo, a produção do filme pode negociar um preço mais baixo do que se ela aparecesse várias vezes durante o filme, somando vários minutos.

O Grande Desafio

Digo que o Spotting e a configuração das Cue Sheets são uma das partes mais difíceis de se fazer o som em uma obra audiovisual porque muitos fatores criativos e financeiros estão envolvidos. Se a equipe não tiver uma imaginação sonora bem aguçada, é possível que muitos efeitos não sejam criados. Ao mesmo tempo, a equipe pode listar efeitos demais e isso acabar sendo um problema que vai gerar mais dias (e portanto mais gastos) para a produção do filme. No caso da música, um caso extremo poderia ser alguém solicitar um tipo de música em uma cue sheet e, depois de ver a música com a cena, perceber que aquele é o tipo de música inadequado e que seria melhor outro tipo naquela cena, causando gastos desnecessários.

De qualquer forma, olhar uma cena sem som e imaginar todos os pequenos sons que compõem aquela paisagem sonora audiovisual é um desafio que precisa de talento, dedicação e foco. O som precisa mostrar não só o que aparece na tela, mas o que também se passa no espaço em off. Precisamos crer, por meio do som, que aquele universo é real e que o personagem está ali, por mais que tenha sido gravado em um estúdio ou em um set bem diferente do que a história conta. Por exemplo, um filme deve se passar em um local isolado mas foi gravado próximo à uma estrada, podendo se ouvir carros ao fundo no som direto. Após remover o som desses carros, quem faz as Cue Sheets tem o desafio de ouvir o som desse local isolado que não existe e adicionar ao filme. Isso pode ser extremamente difícil.

3 formas de fazer Cue Sheets

Abaixo, listo 3 formas básicas de se fazer cue sheets de efeitos sonoros. Você também pode fazer a partir de softwares como EditChart (que funciona juntamente com um Pro Tools), mas optei por listar formas que não depende de nenhum software que você não esteja usando.

  1.  Faça com papel e caneta: Imprima uma folha que possua uma tabela com duas colunas. Na primeira há o timecode geral do filme, saltando a cada 5 segundos. A segunda coluna é uma larga coluna em branco que você deve apontar onde está cada efeito. Mais abaixo você encontra um modelo.
  2. Faça em um software de edição de vídeo, como o Adobe Premiere, ou em um DAW, como o Pro Tools. Essa é uma opção meio diferente e um pouco difícil de imprimir, mas creio que seja uma boa opção se você estiver trabalhando sozinho ou em uma equipe pequena. Importe o primeiro corte do filme e coloque-o na linha do tempo. Agora, coloque pequenos pedaços de um arquivo de som mudo espalhados pela linha do tempo de áudio. Coloque esses “pedaços” no local certo de entrada e saída do som que você quer adicionar e deixe esse áudio na linha do tempo até que ele seja substituído pelo som já gravado. Nesse áudio mudo, você pode adicionar um marcador e escrever nele qual é o som que deve ocorrer naquele momento. Se você fizer isso no Software Nuendo, da Steinberg, você pode imprimir a linha do tempo e todas as suas faixas em uma “track sheet”, que basicamente é uma cue sheet.
  3. Tabela básica: Se tudo falhar, conte com o excel ou faça uma tabela em algum documento qualquer. Você pode fazer uma tabela com 5 colunas: Número do efeito, entrada, saída, duração e descrição. Mais abaixo você pode encontrar um modelo.

Por que colocar a duração?

Alguém pode perguntar: se já tem a minutagem da entrada e a da saída, porque colocar a duração do som a ser colocado. A resposta é que muitos efeitos serão gravados e agilidade e precisão são elementos centrais nessa logística. Colocar a duração do efeito ajuda a agilizar a gravação desses sons e evita erros de cálculo feito às pressas.

Modelos

Abaixo, coloco os dois modelos caso alguém queira usar. Boa sorte na criação!

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